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2004/02/27

Provocação / Por vocação 



Noruega, o horário de trabalho começa cedo às 8 horas e acaba às 15.30.
As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez.
A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível salarial da Europa.
Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas alavancas de progresso), nem em Expos e Euros. É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a fuga ao fisco não é uma vantagem competitiva. Ali, o cruzamento de dados devassa as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as ofertas de património a familiares que, ali ao lado de Espanha, isso aí mesmo, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e confundem os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica.
Mais do que os costumeiros bons negócios, deviam os empresários portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E, já agora, os políticos. Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiança que os ministros não se medem pelas gravatas nem pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por tu.
Aqui na maior "ecoconomia"(desculpem a gaguez) cada ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses (para não falar dos presidentes de câmara) fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que depois escasseiam para o verdadeiramente importante. Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do país com despesismos faraónicos», basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa causa. Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, (Benfica 1-0 Rosenborg)nunca precisaram de pagar aos seus jogadores quatrocentos salários mínimos por mês para que estes joguem à bola. Nas gélidas terras dos vikings há empresários portugueses que ali montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar Árctico, deixava elogios rasgados à «social- democracia nórdica» (nórdica). Ao tempo para viver e à segurança social. Ali, naquele país, também há patos-bravos (Para quem me lê de fora de Portugal isto é gíria, depois vos explico). Mas para os vermos precisamos de apontar binóculos para o céu. Não andam de jipe e óculos escuros. Não se queixam do «excessivo peso do Estado», para depois exigirem isenções e subsídios (perceberam?).
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