<$BlogRSDUrl$> /* ----------------------------------------------- Template Design Nome: Grande Chefe Designer: Guilherme ----------------------------------------------- */ Lembranças dos Guerreiros bgcolor="#FEEDDF">

2004/06/01

Quotidianos...  



Subia um pouco a perna esquerda pressionava com o pé direito, eram já movimentos maquinais a verdadeira fusão homem máquina dava-se precisamente naquele instante sem que de tal se apercebesse. Como ali a cena repetia-se em milhares de locais do planeta, sem sentido especial a não ser o de locomover-se, em princípio sem esforço aparente. Apesar da monotonia era nestas horas que finalmente podia perder tempo em dissertações sobre o sentido da vida “meanning of life” se é que algum sentido, tinha então duas horas de manhã e outras duas ou três ao final do dia para exercer aquela actividade que para a qual sentia que tinha sido criado, pensar ou seja tornar-se o Ser intelecto ou Homem.

Mais um metro, metro e meio, isto hoje promete, as luzes vermelhas estendem-se até onde a vista alcança, entre as duas da frente que de vez em quando se apagam aparece um rostinho que esboça um sorriso, tímido quanto baste, de uma sinceridade que vale cinquenta bons dias dados aquela gente que habita lá na torre, devolvo-lhe o cumprimento, com um aceno e um beijo atirado através do vidro e da bruma fria que envolve a manhã de Inverno, quase que ouço o riso demonstrando a aceitação do carinho, seguindo-se de um brincar de aparece e esconde que nunca recuso.

“Tenho medo de ficar como as pessoas adultas que só pensam em números…” vinha-lhe sempre esta frase à cabeça do velho e sempre actual “Principezinho”, por mais que passassem os anos a criança irrequieta, traquina e tantas vezes irresponsável despontava, seria assim com todos? Por exemplo, aquele homem de bigodes no carro do lado charuto no canto da boca e o fumo a área anteriormente respirável, com aquela cara não era de crer que ainda se lembrasse de como era há uns quarenta e muitos anos atrás.

Quando a cabecinha loira aparecer vou tentar propor-lhe outra brincadeira. – Olha! Psssttt… Ah! Já percebeste. Aponto para o carro do lado e pondo as mãos abertas com os polegares junto às orelhas, abano os dedos e ponho a língua de fora e aponto na direcção do bigodes… Isso mesmo aí estava uma réplica perfeita, com um charme que já me é impossível, na direcção do vizinho circunstancial e carrancudo, uma careta como mandam as regras.

A primeira reacção foi de completo desprezo, com o seu ar de dono do mundo, no empreiteiro mobile, apelido com o qual denomino aquela marca de automóveis. Continuei atentamente a observar a situação, qual cientista que fez uma mistura de reagentes possivelmente explosiva e ansiando pelos resultados que podem dar novos horizontes à humanidade, hipóteses várias, esperança quase nenhuma, medo talvez algum…

Vejam lá apesar de não dar por isso já percorri quase toda a distância, obrigatoriamente percorrida à velocidade de meio quilómetro por hora aproxima-se, pois, a hora da separação, ou seja o fim do teste, havia que apressar a reacção, condimentá-la ou corro o risco de não obter resultados, o que tornaria a experiência num fracasso. Continuando a sorrir comecei a entortar os olhos, espicaçando cada vez mais o meu companheiro da frente, levando a intensificar as carantonhas “medonhas” daquele palminho de cara. E… Reacção, finalmente, custou, mas … A noite deve ter corrido mal ao coitadinho do bigodão, só pode. Pondo o braço de fora exibe uma mão, que para os que não acreditam na teoria evolucionista provoca um sério revés, ele conseguia ter mais pelos na mão que sobre o lábio e ameaçava com um semblante tal, que me abstenho de descrever para não ferir as susceptibilidade dos mais sensíveis, o pobre do meu amiguinho, de umas boas palmadas, o qual assustado com tanta agressividade se encostou ao banco de quem o conduzia, provavelmente a sua mãe, procurando protecção.

Estávamos sobre o sinal luminoso do nosso descontentamento a experiência tinha terminado, tinha o resultado, só que este tinha ultrapassado em muito as hipóteses mais pessimistas, e como tal não poderia deixar a figurinha amedrontada que seguia à minha frente sem expressar a minha solidariedade com os mais fracos e particularmente com ele. Pondo a mão sobre a buzina, pressionei duas vezes, o que foi mais que suficiente para chamar a atenção da figura do meu mais remoto antepassado, pois o sinal ainda se encontrava vermelho, e naquele cérebro calcinado pela cidade de cimento não havia razão para tal procedimento, a não ser …

Eu, tal reflexo do meu alegre amiguinho, um pouco ampliado na língua e na intensidade com que dava aos dedos ao lado da minha cara contorcida por um esgar de desprezo, perante o rosto atónito do empreiteiro, sem desrespeito para a classe, uso simples de uma descrição que serve pela imagem que cria, em completo estado de êxtase, dando-me o tempo suficiente de olhar em frente e ver a carinha por debaixo dos caracóis loiros soltar uma gargalhada e dar um salto de alegria. Estava reposta a justiça, agora só havia que acelerar, pois estava verde e não havia interesse algum na reacção da cobaia dois, colado às luzes vermelhas agora apagadas do transporte do meu pequeno príncipe, qual escolta real segui durante alguns metros, deixando para trás um coro de buzinas atrás do bigode despedaçado na batalha da careta.


De mim para todas as crianças, mesmo essas existentes atrás das máscaras adultas de responsabilidade!


| |




« As Tribos »

A Inzibidinha (reborn)
Abrupto
Afrodite
Avatares Desejo
Bosque da Robina
Caderno da Corda
Cinco Dias
Canto do Melro
E-konoklasta
Estado Civil
Finúrias e Teixirinha
Geração Rasca
Hammer
História d'uma vida
Hoje há conquilhas
Introvertido
Just Music and Words
Lembranças
Macroscopio
Mafia da Cova
Malhas
O Jumento
Observador
Ondas
Outsider
Peciscas
A Quinta
Rui Tavares
Prof.Teresa
Violino Meu



« As Tribos Perdidas»

Barnabé
Enigmódromo
Estaleiro
Farol das Artes
Hepatite C
Lisboa em Fotos
Mal o Menos
Psicólogo Neurótico
Teacher
Titas
Tugir
O Velho de Alfama


« Rede Boa »

Google
Dwelling
Instituto Camões
José Luís Peixoto
MuseusPT
Arqueologia
Sanzalangola


« Ecos anteriores »


fevereiro 2004março 2004abril 2004maio 2004junho 2004julho 2004agosto 2004setembro 2004outubro 2004novembro 2004dezembro 2004janeiro 2005fevereiro 2005março 2005abril 2005maio 2005junho 2005julho 2005agosto 2005setembro 2005outubro 2005novembro 2005dezembro 2005janeiro 2006fevereiro 2006março 2006abril 2006maio 2006junho 2006julho 2006agosto 2006setembro 2006outubro 2006novembro 2006dezembro 2006janeiro 2007fevereiro 2007março 2007abril 2007maio 2007junho 2007julho 2007setembro 2007outubro 2007novembro 2007dezembro 2007janeiro 2008fevereiro 2008março 2008abril 2008maio 2008junho 2008agosto 2008setembro 2008outubro 2008novembro 2008dezembro 2008janeiro 2009março 2009maio 2009julho 2009agosto 2009setembro 2009outubro 2009dezembro 2009março 2010junho 2011junho 2012





« Correio »

o.grande.chefe@gmail.com
« Reservas »

This page is powered by Blogger. Isn't yours?
Add to Technorati Favorites