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2006/12/17

Desabafo. 



Desabafo

Já fui muito feliz...

É verdade. Já fui muito feliz na minha profissão!

Completei 26 (vinte e seis) anos de serviço docente.

Neste espaço de tempo, passei por um estágio profissional de dois anos na Escola Superior de Educação de Santarém. Foi uma experiência desgastante mas compensadora, que permitiu melhorar a minha prática lectiva.

Nos primeiros anos de ensino, fazia parte do grupo de pessoas que passavam fins-de-semana em comboios e autocarros que demoravam horas de viagem, para nos deslocarmos de casa para a Escola e vice-versa. Ganhávamos mal, ficávamos distantes da família, trabalhávamos mais de 40 horas semanais, como hoje em dia, mas gostava imenso do que fazia.

Não sei se sabem, mas os professores não trabalham apenas as horas em que estão na sala de aula.

É necessário uma constante e cuidada actualização pois, hoje em dia, os avanços científicos, as descobertas, os conhecimentos em geral, evoluem de tal forma, que é imperativo não descurar toda a informação que se conseguir obter;

As aulas têm que ser preparadas e, devido á necessidade de actualização referida, essa preparação tem que ser, no mínimo, semanal;

As fichas de avaliação têm que ser elaboradas e corrigidas;

Cada aluno é diferente, o que exige que cada docente conheça minimamente cada um dos jovens que frequenta a sua disciplina [a turma com menor número de alunos que lecciono, é composta por 26 (vinte e seis) adolescentes]!...

Senhora Ministra: quantas horas semanais julga serem necessárias para que cada professor faça um trabalho competente, criativo, crítico, versátil e com sucesso?

Eu já contabilizei as horas de trabalho fora da sala de aula e totalizaram 30 (trinta). O que quer dizer um total de 50 (cinquenta) horas por semana, quando o meu horário lectivo era de 20 horas semanais! Mas, aqueles que leccionam o Ensino Básico, tinham 25 horas lectivas. Se usarem o mesmo tempo que eu no trabalho necessário para as suas aulas, ficavam com uma carga de 55 horas semanais.

Ontem e hoje, estive a reparar nos rostos dos profissionais da minha Escola. Sabe o que é que se notava mais? Olhos encovados, cansaço e ... um sorriso sempre que falavam com os seus alunos, tentando não deixar transparecer a desilusão e a falta de descanso, pois é por eles que a maior parte de nós decidiu optar pela profissão docente.

No entanto, não convém esquecer que somos humanos e, por isso mesmo, temos necessidades básicas fundamentais para o nosso equilíbrio físico e mental:

dormir, comer, estar com a família, para não falar do direito ao respeito.

E a questão actual é precisamente o respeito por aqueles que preparam os futuros Engenheiros, Médicos, Professores, Políticos, Advogados ... ou seja, por aqueles que se esforçam por transmitir conhecimentos úteis aos jovens de hoje, adultos de amanhã (passe o chavão).

«O grau de civilização de uma Nação transparece na forma como os seus governantes valorizam o sistema educativo e de saúde!»

Perdoem-me o desabafo, mas tinha necessidade de o fazer.

Desejando um Santo Natal e um Novo Ano mais sereno, despeço-me.




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Comments:
Pede-se excelência, apelando ao suf. med.
Investe-se na ciência esquecendo a base... Grandes projectos, magnânimes vontades, em castelos construídos na areia da praia, assim se vai delineando um futuro próspero e risonho.
Beijinhos maninha
 
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